terça-feira, 10 de abril de 2007

Máximo, o Confessor, e a última grande batalha cristológica



Num país em que beletristas como Marxlena Chauí e Gianotti são chamados de filósofos, em que o intelectual mais levado a sério é Zizek, é maravilhoso que haja uma tradução de Giavanni Reale. O simples fato de sua História Da Filosofia ter sido traduzida já é uma beleza, mas a Paulus a realizou de maneira notável, com clareza nas noções filosóficas e afortunadas equivalências em Português, que são difíceis a partir do italiano.

Reale, para mim, é um dos maiores historiadores de Filosofia de todos os tempos. Só não concordo com ele pelo seu tratamento deveras deferente de Hegel e Heidegger (talvez seja efeito colateral dos cursos que faz na Alemanha). Há uma tradição de grandes historiadores das idéias, que tem entre seus representantes Andrônico de Rodes e o próprio Aristóteles (caso se interesse pelos pré-socráticos, não leia o Mundo de Sofia, leia Aristóteles: ele expões suas idéias, critica-as e as aprimora; é admirável). O italiano que é autor deste texto, que considero um dos vértices dessa tradição, é Católico, como se perceberá; seu estudo da 'Revolução' que trouxe o Cristianismo é uma jóia da Apologética, e este texto é uma pequena amostra das golfadas de seu gênio:

Máximo viveu de 579/580 a 662 e representa a última voz original da Patrística grega. Dentre as suas obras, podemos citar os poderosos Ambigua, traduzidos para o latim por Escoto Eríugena, nos quais são discutidas questões difíceis de Dionísio e Gregório de Nissa, e as Questões a Talássio, os sugestivos Pensamentos sobre o amor, em como os Pensamentos sobre o conhecimento de Deus e sobre Cristo, o Livro ascético, a Interpretação do Pai-Nosso, a Discussão com Pirro, a Mistagogia, numerosos Opúsculos Teológicos e várias Epístolas.

Máximo é importante tanto pelo aspecto filosófico (ele apresenta uma forma de neoplatonoimo repensado a fundo em função da teologia cristã) como pelo aspecto místico-ascético, e sobretudo pelo aspecto teológico, particularmente por sua cristologia.

Eis, por exemplo, um pensamento teológico essencial no que ele insiste e que parece uma refutação ante litteram de Lutero: ‘‘Eu tenho fé e basta-me a Fé em Cristo para a salvação’. Tiago, porém, o contradiz dizendo: ‘Os demônios também crêem e fremem’. E, em seguida: ‘A fé sem obras está morta em si mesma, como também as obras sem a fé.’’

Mas ele foi grande sobretudo pela batalha que travou com energia contra as últimas doutrinas que ameaçavam o dogma cristológico sancionado pelo Concílio de Calcedônia. Com efeito, se haviam difundido doutrinas que sustentavam que, em Cristo, existe uma só energia (monoenergismo) e uma só vontade (monteletismo) de natureza divina. Tratava-se de formas de cripto-monofisismo; Pois Máximo as refutou, demonstrando, com eficácia e grande tenacidade, que em Cristo há duas atividades e duas vontades: a divina e a humana. E assim conseguiu levar à vitória a tese de Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Mas pagou essa sua batalha com grandes sofrimentos: sua língua foi cortada, sua mão direita amputada e ele próprio foi mandado para o exílio. Por isso foi chamado ‘o Confessor’, ou seja, ‘Testemunha’ da verdadeira fé em Cristo, que ele chamou ‘o mais forte de todos, porque é e se diz Verdade.’

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