segunda-feira, 9 de abril de 2007

Mãe de Deus

À época do Concílio de Éfeso, a temível heresia do nestorianismo investia suas bordoadas contra a Igreja Católica (ou, para os protestantes, Igreja Primitiva) e contra a Cruz, usando dos expedientes mais sórdidos: difamação, propaganda, acusações, e uma técnica que é antepassada remota da tática leninista: a destruição de reputação sem a refutação lógica incluída. Essa heresia não foi um delírio grupal, mas um movimento violento, que pervertia o conteúdo da doutrina Cristã e seduzia à muitos.
Ora, o que é o nestorianismo? É a heresia que afirma que Maria não é a Mãe de Deus, mas apenas a Mãe de Cristo, ou seja, só da natureza humana de Cristo. Implícito está aí algo que se repete em todas as seitas, sejam gnósticas, cátaras, donatistas ou outras do mesmo esgoto: o ódio à Virgem Maria.
Não, não vou dizer que os protestantes vão para o Inferno por não venerá-la; mas lembro a esses mesmos protestantes que o Arcanjo Gabriel disse a ela: 'Salve, Maria!'. Na época do Império Romano, esta era uma saudação estritamente feita de um subordiado a alguém superior. Por isso nos filmes há tantos 'Ave, César!' e nunca algo como 'Ave, soldado!'. Ora, se o próprio Gabriel a reconhece como superior, quem sou eu para dizer que ela 'não tem tanta importância assim'...

Eis um belo texto de São Cirilo de Alexandria, Doutor do século IV, que se levantou contra o nestorianismo no Concílio de Éfeso, com comentários intercalados que não são meus:

Tu és verdadeiramente Mãe de Deus, ó Virgem Maria

Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. Realmente, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou? Esta verdade nos foi transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta expressão. Assim fomos também instruídos pelos Santos Padres. Em particular, Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, na terceira parte do livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, dá frequentemente à virgem Santíssima o título de Mãe de Deus.

Vejo-me obrigado a citar aqui suas palavras, que têm o seguinte teor: “a Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador estas duas coisas: que ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da virgem Maria, Mãe de Deus”.E continua mais adiante: “Houve muitos que já nasceram santos e livres de todo pecado. Por exemplo: Jeremias foi santificado desde o seio materno; também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus”. (Aqui, São Cirilo e Santo Atanásio não estão afirmando que Jeremias e João Batista foram imaculados desde a conceição, como a Virgem Maria. Nossa Senhor foi imaculada desde o primeiríssimo momento da sua concepção. Esses dois profetas, concebidos como pecadores, forma purificados num determinado momento do período de gravidez. João, por exemplo, no sexto mês da gestação materna... A imaculada conceição diz respeito única e exclusivamente à Toda Santa Virgem Maria Mãe de Deus). Estas palavras são de um homem inteiramente digno de lhe darmos crédito, sem receio, e a quem podemos seguir com toda segurança. Com efeito, ele jamais pronunciou uma só palavra que fosse contrária às Sagradas Escrituras (É muito belo o elogio que São Cirilo faz ao seu antecessor na sede episcopal de Alexandria. De fato, Santo Atanásio foi o grande defensor da divindade de Cristo, contra a heresia ariana. Por isso mesmo, chegou a ser exilado de sua diocese cinco vezes pelo Imperador. E pensar que ignorante e espertalhão autor do Código da Vinci, afirma que foi o imperador quem forçou a proclamar Cristo como Deus. Mentira! Os bispos é que sofreram para defender, contra alguns imperadores, a verdadeira fé na divindade de Cristo).
De fato, a Escritura, verdadeiramente inspirada por Deus, afirma que o Verbo de Deus se fez carne, quer dizer, uniu-se à carne dotada de alma racional. Portanto, o Verbo de Deus assumiu a descendência de Abraão e, formando para si um corpo vindo de uma mulher, tornou-se participante da carne e do sangue. Assim, já não é somente Deus mas homem também, semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa natureza. Por conseguinte, o Emanuel, Deus-conosco, possui duas realidades, isto é, a divindade e a humanidade. Todavia, é um só o Senhor Jesus Cristo, único e verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, igual àqueles que pela graça se tornam participantes da natureza divina; (Aqui, São Cirilo refere-se ao cristão que, batizado, recebe o Espírito de Cristo e, como filho no filho Jesus, torna-se participante da natureza divina); mas é verdadeiro Deus, que para nossa salvação, se tornou visível em forma humana, conforme Paulo testemunha com as seguintes palavras: Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,4-5).