sexta-feira, 23 de maio de 2008

«Quem em meu nome acolher este pequenino, é a mim que acolhe»

De Clemente de Alexandria

Fonte

«Os seus filhinhos serão levados aos ombros e consolados ao colo, vem nas Escrituras. Como à criança a quem a mãe dá consolo, também eu vos consolarei» (Is 66,12-13). A mãe chega seus filhos a si, e nós, nós procuramos nossa mãe, a Igreja. Todo o ser de pouca idade e frágil é, nessa fragilidade desprotegida, um ser gracioso, doce, encantador; Deus não recusa o seu auxílio a seres tão jovens assim. Todos os pais têm uma ternura peculiar para com seus filhos pequenos… De igual modo, o Pai de toda a criação acolhe aqueles que se refugiam junto de si, regenera-os pelo Espírito e adopta-os como filhos; conhece a sua doçura e só a eles ama, auxilia, defende; por isso lhes chama filhos (cf. Jo 13,33).

O Santo Espírito, falando pela boca de Isaías, aplica ao próprio Senhor o termo filho: «Eis que nos nasceu um menino, foi-nos dado um filho.» (Is 9,5). Quem é então esta pequena criança, este recém-nascido, à imagem de quem também nós somos crianças? Pela boca do mesmo Profeta, o Espírito descreve-nos a sua grandeza: «Conselheiro admirável, Deus poderoso, Pai eterno, Príncipe da paz» (v. 6).

Ó Deus tão grande! Ó menino perfeito! O Filho está no Pai e o Pai está no Filho. Poderia não ser perfeita a educação que nos dá este menino? Ela reúne-nos para nos guiar, a nós, os seus filhos. O menino estendeu-nos as mãos, e nelas pomos toda a nossa fé. Também João Baptista dá testemunho desta criança: «Eis o cordeiro de Deus», diz-nos (Jo 1, 29). Como as Escrituras designam as crianças por cordeiros, chamou “cordeiro de Deus” ao Verbo Deus que por nós se fez homem e que em tudo nos quis ser igual, ele, que é o Filho de Deus, o menino do Pai.

Tal como Herodes, queremos ver a Jesus

De São Pedro Crisólogo

O amor não admite não ver aquilo que ama. Não consideraram todos os santos ser pouca coisa aquilo que obtinham quando não viam a Deus? … Por isso Moisés ousa dizer: “Se alcancei graça aos teus olhos, revela-me o teu rosto” (Ex 33, 13). E diz o salmista : “Revela-nos o teu rosto” (Sl 79,4). Não era por isso que os pagãos construíam ídolos? No seio do próprio erro, eles viam com os olhos o que adoravam.

Deus sabia, pois, que os mortais se atormentavam no desejo de o ver. O que ele escolheu para se revelar era grande na terra e não era o mais pequeno nos céus. Porque o que, na terra, Deus fez semelhante a si, não podia ficar sem honra nos céus : “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança, diz» (Gn 1, 26)… Que ninguém pense, pois, que Deus fez mal em vir aos homens através de um homem. Ele fez-se carne entre nós para ser visto por nós.

Somos Seus irmãos porque Sua Mãe ouviu a palavra e a pôs em prática

De Santo Irineu de Lyon

A Virgem Maria foi obediente quando disse: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Pelo contrário, Eva foi desobediente, tendo desobedecido quando era ainda virgem. E assim como Eva, desobedecendo, se tornou causa de morte para si mesma e para todo o género humano, assim também Maria, tendo por esposo aquele que lhe tinha sido antecipadamente destinado mas mantendo-se virgem, se tornou, pela sua obediência, causa de salvação para si mesma e para todo o género humano. […] Porque o que foi ligado só pode ser desligado quando se desfaz o nó, de tal maneira que um primeiro nó é desatado por um segundo, tendo o segundo a função de desatar o primeiro.

Era por isso que o Senhor dizia que os primeiros seriam os últimos, e os últimos os primeiros (Mt 19, 30). E também o profeta afirma a mesma coisa, ao dizer: “Em lugar dos teus pais, virão os teus filhos” (Sl 44, 17). Porque, ao tornar-Se “o Primogénito dos mortos”, ao receber no seu seio os pais antigos, o Senhor fê-los renascer para a vida em Deus, tornando-Se Ele mesmo “o princípio” (Col 1, 18), já que Adão fora o princípio dos mortos. É também por isso que Lucas começa a sua genealogia pelo Senhor, fazendo-a depois remontar até Adão (Lc 3, 23ss.), indicando assim que não foram os pais que deram a vida ao Senhor, mas foi Ele, pelo contrário, que os fez renascer no Evangelho da vida. Da mesma maneira, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, porque aquilo que a virgem Eva tinha atado pela sua incredulidade foi desatado pela Virgem Maria pela sua fé.

Prestai artenção à forma como escutais

Sermão atribuído a Santo Agostinho

Fonte

«Que cada um esteja sempre pronto para escutar, mas lento para falar» (Ti 1,19). Sim, irmãos, digo-vos francamente..., eu que muitas vezes vos falo a vosso pedido: a minha alegria é sem mancha quando me sento entre os ouvintes; a minha alegria é sem mancha quando escuto e não quando falo. É então que eu saboreio a palavra com toda a segurança; a minha satisfação não é ameaçada pela vanglória. Quando estamos sentados sobre a pedra sólida da verdade, como se recearia o percipício do orgulho? «Escutarei, diz o salmista, e encher-me-ás de alegria e de júbilo» (Sl 50,10). Nunca fico mais alegre do que quando escuto; é o nosso papel de ouvinte que nos mantém numa atitude de humildade.

Pelo contrário, quando tomamos a palavra... precisamos de uma certa retenção; mesmo se não cedo ao orgulho, tenho medo de o fazer. Mas, se escuto, ninguém pode roubar a minha alegria (Jo 16,22) porque ninguém é testemunha dela. É verdadeiramente a alegria do amigo do esposo de quem S. João diz que «fica de pé e escuta» (Jo 3,29). Fica de pé porque escuta. O primeiro homem, também, quando escutava Deus, ficava de pé; quando escutou a serpente, caíu. O amigo de esposo fica, pois, «transbordante de alegria à voz do Esposo»; o que faz a sua alegria não é a sua voz de pregador ou de profeta, mas a voz do próprio Esposo.

"Tendes só um Mestre, ... o Cristo"

Fonte

Disse ainda Jesus aos discípulos: «Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens.
Mandou-o chamar e disse-lhe: 'Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.'
O administrador disse, então, para consigo: 'Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha.
Já sei o que hei de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.'
E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: 'Quanto deves ao meu senhor?' Ele respondeu:
Cem talhas de azeite.' Retorquiu-lhe: 'Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.'
Perguntou, depois, ao outro: 'E tu quanto deves?' Este respondeu: 'Cem medidas de trigo.' Retorquiu-lhe também: 'Toma o teu recibo e escreve oitenta.'
O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.»
«E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas.
Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito.
Se, pois, não fostes fiéis no que toca ao dinheiro desonesto, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem?
E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»

domingo, 13 de abril de 2008

Admiração

Caríssimos,

Na lista de links que ladeia o Blog, vocês encontrarão católicos tradicionais, católicos pós-conciliares, ortodoxos, protestantes históricos. Um link para o Veritais Splendor e outro para a Associação Cultural Montfort, sites que há muito se enfrentam e estão repletos de divergências. Há monárquicos e republicanos, aristocratas e defensores da democracia. Entretanto, não posso deixar de registrar que uma imensa falta se assinala nessa lista. E quanto eu devo a este que não referencio!

Luiz de Carvalho já foi confundido algumas vezes com o Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho, por quem também tenho a maior estima. Ao contrário desse último, hoje na Inglaterra, Luiz não saiu do Brasil. Para a felicidade dos seus leitores, porém, o Brasil saiu dele. Sua pequena bitácora na blogosfera mantém uma luminosa galeria de gênios e grandes almas, magníficas criações do espírito humano vertidas para um Português elevado, e a solenidade reverente que tanto falta a nosso provincianismo tropical. Se eu tivesse aprendido com esse tradutor apenas as belezas suaves e a claridade de nossa língua de matriz latina, já teria razão suficiente para considerar seus escritos um presente de Deus.

Ocorre que o Traduções Gratuitas não é apenas constituído de erudição e alta cultura, mas tem seu centro num propósito nitidamente espiritual. Ali é possível compreender o Catolicismo e tomar contato com vértices da Filosofia e Teologia cristãs, e chegar mais próximo da verdade do que jamais sonhariam nossos acadêmicos e palpiteiros. Lembro da alegria radiante que tinha ao explorar os arquivos desse Blog encontrado por mim através d'O Indivíduo, do desejo de estudar São Tomás de Aquino, Leibniz e Luiz Lavelle despertado pelas traduções. E também da paz trazida a minha alma ao descobrir o Permanência, descoberta pela qual jamais teria como agradecer inteiramente ao Luiz. Minha modesta contribuição para a divulgação de seu Blog foi a recomendação dele à Association Louis Lavelle. É o mínimo que poderia fazer.

Ao final desse post de estilo capenga, escrito com admiração, só posso pedir aos leitores do Mercabá que prossigam até o Traduções Gratuitas. E leiam tudo.

domingo, 23 de março de 2008

São João, 20

Fonte

No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro.
2. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!
3. Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro.
4. Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.
5. Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou.
6. Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão.
7. Viu também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não estava, porém, com os panos, mas enrolado num lugar à parte.
8. Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu e creu.
9. Em verdade, ainda não haviam entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dentre os mortos.
10. Os discípulos, então, voltaram para as suas casas.
11. Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro.
12. Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13. Eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Ela respondeu: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14. Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu.
15. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem procuras? Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar.
16. Disse-lhe Jesus: Maria! Voltando-se ela, exclamou em hebraico: Rabôni! (que quer dizer Mestre).
17. Disse-lhe Jesus: Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18. Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado.
19. Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja convosco!
20. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor.
21. Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.
22. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.
24. Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25. Os outros discípulos disseram-lhe: Vimos o Senhor. Mas ele replicou-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!
26. Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco!
27. Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé.
28. Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus!
29. Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!
30. Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro.
31. Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.