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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Sobre a Páscoa

De Melitão de Sardes

O mistério da Páscoa: a novidade do Verbo encarnado

Foi lida a Escritura a respeito do êxodo hebreu, foram explicadas as palavras do mistério: como a ovelha foi imolada e o povo foi salvo.

Compreendei, pois, caríssimos! É assim novo e antigo,
eterno e temporal,
corruptível e incorruptível,
mortal e imortal
o mistério da Páscoa:
antigo segundo a Lei,
novo segundo o Verbo;
as não era ovelha;
como o cordeiro, não abriu a boca,
mas não era cordeiro.
Passou a figura, persiste a realidade.
Em vez do cordeiro, Deus presente,
em vez da ovelha, um homem,
e neste homem, Cristo, aquele que sustém todas as coisas.
Assim, o sacrifício da ovelha,
e a solenidade da Páscoa,
e a letra da Lei,
cederam lugar ao Cristo Jesus,
por causa do qual tudo sucedera na antiga Lei,
e muito mais sucede na nova disposição

Pois a Lei se converteu em Verbo, o antigo em novo,
ambos saídos de Sião, e de Jerusalém.

O mandamento se converteu em dádiva,
a figura em realidade,
o cordeiro em Filho,
a ovelha em homem,
o homem em Deus.

Com efeito, aquele que nascera como Filho,
e fora conduzido como cordeiro,
sacrificado como ovelha,
sepultado como homem,
ressuscitou dentre os mortos como Deus,
sendo por natureza Deus e homem.

Ele é tudo:
enquanto julga, é lei;
enquanto ensina, Verbo;
enquanto gera, pai;
enquanto sepultado, homem;
enquanto ressurge, Deus;
enquanto gerado, Filho;
enquanto padece, ovelha;
ele, Jesus Cristo, a quem seja dada a glória pelos séculos. Amém.

Tal é o mistério da Páscoa, como foi descrito na Lei e como o acabamos de ler.

As figuras do Antigo Testamento, suplantadas pela realidade do Novo

A salvação do Senhor e a realidade
foram prefiguradas no povo ( judeu),
as prescrições do Evangelho prenunciadas pela Lei.
o povo era como o esboço de um plano,
a Lei como a letra de uma parábola;
mas o Evangelho é a explicação da Lei e seu cumprimento,
e a Igreja o lugar onde isso se realiza.

O que existia como figura era valioso
antes que ocorresse a realidade,
maravilhosa a parábola antes que viesse a explicação.

O povo tinha seu valor antes que se estabelecesse a Igreja,
Lei era admirável antes que refulgisse o Evangelho.
Mas quando surgiu a Igreja e se apresentou o Evangelho,
esvaziou-se a figura, sua força passou para a realidade,
a Lei se cumpriu, transfundiu-se no Evangelho...

O povo perdeu razão de ser quando veio a Igreja,
a imagem se fez abolida quando apareceu o Senhor.

O que antes era valioso perdeu seu valor,
frente à manifestação do que era realmente valioso por natureza.

Valioso era antes o sacrifício da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da vida do Senhor.

Valiosa era a morte da ovelha,
agora perdeu o valor, por causa da salvação do Senhor.

Valioso era o sangue da ovelha,
mas perdeu o valor, por causa do Espírito do Senhor.

Valioso era o cordeiro que não abria a boca,
mas perdeu o valor, por causa do Filho sem mácula.

Valioso era o templo terreno,
mas perdeu o valor, por causa do Cristo celeste.

Valiosa era a Jerusalém de baixo,
mas perdeu o valor, por causa da Jerusalém do alto.

Valiosa era a pequena herança,
mas perdeu o valor por causa da amplitude do dom.

Porque não foi em parte alguma da terra,
em nenhuma faixa estreita da terra
que se estabeleceu a glória de Deus,
e sim por todos os confins se derramou seu dom,
em toda parte armou sua tenda o Deus onipotente.

Por Jesus Cristo, a quem seja dada glória pelos séculos. Amém.


O Pecado do Homem

Deus, no princípio, tendo criado pelo Verbo o céu, a terra e tudo o que neles se encerra, modelou do barro o homem e comunicou-lhe seu sopro. Colocou-o em seguida num jardim voltado para o Oriente, o Eden, para que ali vivesse feliz. E deu-lhe um mandamento...

Mas o homem, sendo por natureza capaz do bem e do mal, como uma porção de terra capaz de receber sementes boas e más, escutou ao conselheiro hostil e, tomando o fruto da árvore, transgrediu o mandamento, desobedeceu a Deus.

Por conseguinte, foi deixado neste mundo, como numa prisão de condenados. Após muitos anos e após gerar numerosa prole, voltou à terra, de cUJa árvore colhera o fruto, legando a seus filhos esta herança...

não a pureza, mas a luxúria,
não a imortalidade, mas a corrupção,
não a honra, mas a desonra,
não a liberdade, mas a escravidão, não a realeza, mas a tirania,
não a vida, mas a morte,
não a salvação, mas a perdição.

Nova e terrível tornou-se a ruína dos homens sobre a terra. Eis o que lhes aconteceu: foram tiranizados pelo pecado, e levados a lugares de concupiscência, para viverem assaltados por prazeres insaciáveis, pelo adultério, a fornicação, a impureza, os maus desejos, a cobiça, os homicídios, o derramamento de sangue, a tirania da maldade e da injustiça. Era o pai lançando a espada contra o filho, o filho erguendo a mão contra o pai, o ímpio golpeando a lactante, o irmão ferindo o seu irmão, o hospedeiro injuriando o hóspede, o amigo assassinando seu amigo, o homem degolando o semelhante. Todos se transformaram na terra em homicidas, fratricidas, parricidas, infanticidas...

E com isso exultava o Pecado: colaborador da Morte, precedia-a nas almas dos homens e preparava-lhe como alimento os corpos mortos. Imprimia em toda alma sua marca, para fazer morrer os que a traziam.

Toda carne, pois, caiu sob o pecado,
e todo corpo sob a morte.

Toda alma foi arrancada de sua morada de carne
e o que foi tirado da terra se dissolveu na terra,
o que foi dado por Deus se encarcerou no Hades.

Estava destruída a bela harmonia,
desfeito o belo corpo.

O homem dividido sob o poder da morte,
estranha desgraça a aprisioná-la:

Era arrastado como cativo pelas sombras da morte,
jazia abandonada a imagem do Pai.

Eis a razão por que se cumpriu o mistério da Páscoa
no corpo do Senhor.

O Desígnio Salvador em Cristo

O Senhor havia ordenado de antemão seus próprios padecimentos nos patriarcas, nos profetas e em todo o povo, pondo como seu selo a Lei e os profetas. Pois o que devia realizar-se de modo inaudito e grandioso estava preparado desde muito, a fim de que ao suceder fosse crido, depois de tão vaticinado (...)

Antigo e novo o mistério do Senhor:
antigo na figura, novo no dom.

Se vês a figura, verás a realidade ao longo de sua atuação.

Se queres contemplar o mistério do Senhor verás
Abel, assassinado como ele,
Isaac, aprisionado como ele,
José, vendido como ele,
Moisés, exposto como ele,
Davi, perseguido como ele,
os profetas padecendo como ele e por causa dele.

Contempla também o cordeiro degolado na terra egípcia,
que abateu o Egito e salvou a Israel por seu sangue (...)

Aquele que veio dos céus à terra por causa do homem que sofria,
e se revestiu do homem nas entranhas de uma Virgem,
aparecendo como homem.

Aquele que assumiu os sofrimentos de quem sofria,
tomando um corpo capaz de sofrer,
aquele que anulou os sofrimentos da carne,
destruindo com seu espírito imortal a morte homicida (...)

Aquele que nos tirou da escravidão para a liberdade,
das trevas para a luz,
da morte para a vida,
da tirania para o reino eterno.

Que fez de nós um sacerdócio novo
e um povo escolhido para sempre,

Ele, a Páscoa de nossa salvação...

Ele, que se encarnou numa Virgem,
se deixou suspender na cruz,
foi sepultado na terra,
ressuscitou dos mortos,
foi arrebatado aos céus.

Ele, o cordeiro emudecido,
o cordeiro imolado,
nascido de Maria, a ovelha bela,
o cordeiro levado do rebanho ao matadouro,
sacrificado à tarde, sepultado à noite.

Não lhe quebraram os ossos no madeiro,
na terra não sofreu a corrupção,
mas ressurgiu dentre os mortos,
ressuscitou o homem das profundezas do sepulcro

Ele, entregue à morte. Onde? No meio de Jerusalém.

Por quê?

Porque curou os coxos,
purificou os leprosos,
trouxe a luz aos cegos,
despertou os mortos.

Por isto padeceu...

Por que cometeste, ó Israel, tão grande injustiça,
entregando teu Senhor a tais sofrimentos,
ele, teu amo,
ele, que te plasmou,
te criou,
te honrou,
te chamou Israel?

Não te mostraste" Israel" pois não viste a Deus,
não reconheceste o Senhor,
não soubeste ser ele o primogênito de Deus,
aquele que foi gerado antes da estrela matutina,
aquele que fez brotar a luz,
fez brilhar o dia,
separou as trevas,
firmou o primeiro fundamento,
suspendeu a terra,
secou o abismo,
estendeu o céu,
organizou o mundo,
dispôs no alto os astros,
fez resplandecer as estrelas,
fez os anjos celestiais,
fixou nas alturas os tronos,
modelou na terra o homem!

Ele, o que te escolheu e te guiou de Adão a Noé,
de Noé a Abraão,
de Abraão a Isaac, a Jacó e aos patriarcas;
aquele que te conduziu ao Egito e te protegeu e sustentou,
que iluminou teu caminho com a coluna de fogo,
te ocultou sob a nuvem,
e dividiu o mar Vermelho para atravessares suas águas.

Que dispersou teu inimigo,
te deu o maná do alto,
e a água da pedra.

Que te deu a Lei em Horeb,
e te fez herdar a terra,
que te enviou os profetas

Verdadeiramente é amarga
conforme está escrito:

"Comereis pães ázimos com ervas amargas".

Amargos para ti os cravos que afiaste,
amarga a língua que aguçaste,
amargas as falsas testemunhas que propuseste,
amargas as cordas que preparaste:,
amargos os açoites que descarregaste,
amargo para ti foi Judas, a quem pagaste,
amargo Herodes a quem obedeceste,
amargo Caifás, em quem confiaste,
amargo o fel que ofereceste,
o vinagre que cultivaste,
amargos os espinhos que ajuntaste,
amargas as mãos que ensangüentaste.

Entregaste teu Senhor à morte, no meio de Jerusalém...


O triunfo de Cristo


Ele, o Senhor, revestido do homem,
padecente pelo homem que sofria,
atado pelo homem prisioneiro,
julgado em prol do culpado,
sepultado pelo que jazia na terra,
ressurgiu dentre os mortos e clamou em alta voz:

"Quem se levantará em juízo contra mim?

Venha defrontar-se comigo!

Eu libertei o condenado,
vivifiquei o morto,
reergui o sepultado.

Quem me irá contradizer?

Eu, o Cristo, destruí a morte,
triunfei do inimigo,
esmaguei o inferno,
rnanietei o forte,
arrebatei o homem para as alturas dos céus.

Eu, o Cristo!

Vinde, pois, famílias dos homens manchadas por pecados,
recebei o perdão dos pecados!

Pois sou vosso perdão,
eu, a Páscoa da salvação,

O cordeiro imolado por vós
a vossa redenção,
a vossa vida,
a vossa ressurreição,
a vossa luz,
a vossa salvação,
o vosso rei.

Eu vos elevarei à sublimidade dos céus,
e vos mostrarei o Pai que existe desde os séculos,
vos ressuscitarei por minha destra".

A ele, o Cristo,
o Alfa e o Omega,
o começo e o fim,
o inenarrável começo, o incompreensível fim,
o Rei,
a ele, Jesus,
o Chefe,
o Senhor,
o que ressurgiu dentre os mortos,
o que está assentado à direita do Pai,
o que conduz ao Pai e é conduzido pelo Pai,
a ele gloria e poder pelos séculos. Amém.



Fonte:
GOMES, C. Folch Antologia dos Santos Padres.
São Paulo- Ed. Paulinas 1979

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Não é tempo de coroas e de prêmios, mas de lutas

Das Homilias de São João Crisóstomo, Bispo

(Comentário a Mc 10,32-45, evangelho do XXIX domingo do Tempo Comum - ano B)
Chegando Jesus a Jerusalém, aproximou-se dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos Tiago e João, dizendo-lhe : Dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e outro à tua esquerda (Mt 20,21). Outro evangelista (Mc 10,35) diz terem sido os filhos que fizeram esse pedido a Cristo. Mas não há desacordo, nem é o caso de nos determos nessas minúcias. Tendo mandado a mãe à frente, após ter ela falado e preparado o terreno, fizeram também o pedido, sem saber o que diziam. Na verdade, embora apóstolos, eram ainda muito imperfeitos, como filhotes de pássaros a girar em torno do ninho, antes de lhes nascerem as penas.
É muito útil sabermos que, antes da Paixão, estavam mergulhados em grande ignorância a ponto de censurá-los o Senhor, dizendo: Nem mesmo vós tendes entendimento? (Mt l5,16) Ainda não entendeis nem compreendeis (Mc 8,17) que não estava falando de pão quando vos disse: acautelai-vos do fermento dos fariseus? (Mt 16,11). E mais tarde: Tenho ainda muita coisa a dizer-vos, mas não sois capazes de compreender agora (Jo 16,12).
Não vemos que certamente nada sabiam da ressurreição? E o evangelista o acentua dizendo: Ainda não tinham compreendido que, conforme a Escritura, devia ressuscitar dos mortos (Jo 20,9). E se não sabiam isso, com mais razão ignoravam outras coisas, como, por exemplo, o que se refere ao reino dos céus, à nossa origem e ascensão ao céu. Ainda apegados à terra, não podiam elevar-se às alturas. Esperavam, convictos, que de um dia para o outro, reconstituisse ele o reino de Jerusalém, uma vez que não eram capazes de compreender outra coisa. Outro evangelista também o indica, afirmando que pensavam já estar próxima a vinda do reino, que imaginavam semelhante aos reinos terrenos, e acreditavam estar-se preparando para instaurá-lo e não para a cruz e para a morte. Não conseguiram compreender essas coisas apesar de as terem ouvido muitas vezes.
Não tendo, pois, chegado a um claro e exato conhecimento da verdade, acreditavam estar a caminho de um reino terreno, certos de que ele reinaria em Jerusalém. E estando perto dele, na estrada, aproveitaram a ocasião para dirigir-lhe tal pedido. Afastando-se do grupo dos discípulos, como se tudo dependesse de sua vontade, pedem-lhe um lugar privilegiado e que lhes fossem atribuídos cargos importantes. Achavam que as coisas chegavam a seu fim, que tudo estava terminado, e viera o tempo das coroas e dos prêmios. Era o cúmulo da ignorância.
Depois do pedido que fizeram, ouçamos a resposta de Jesus: Não sabeis o que pedis (Mt 20,22). Não era o momento de coroas e prêmios, mas de batalha, de luta, de fadigas, de suores, de provações e combates. A frase não sabeis o que pedis significa tudo isto. Ainda não experimentastes os cárceres, ainda não entrastes em campo para combater.
Podeis beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados com o batismo com que serei batizado? (Mc 10,38). Neste momento chama cálice e batismo à sua cruz e à sua morte. Cálice porque as bebe avidamente; batismo porque com elas purifica a terra. Não só deste modo a redimia, mas também pela ressurreição, que não lhe foi custosa. Do cálice que vou beber também bebereis, e com o batismo com que vou ser batizado, sereis batizados (Mc 10,39), diz ele, chamando assim à sua morte. Na verdade Tiago teve a cabeça cortada pela espada e João como que passou por várias mortes. Porém sentar à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe concedê-lo, mas é para aqueles para quem foi preparado (Mc 10,40). Vós morrereis, sereis condenados à morte e obtereis a honra do martírio. Quanto a ser o primeiro, não me cabe concedê-lo, mas é para aqueles para quem foi preparado.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Hoje fala o Senhor em nossa assembléia

Das Homilias sobre o Evangelho de São Lucas, de Orígenes, presbítero

Jesus, então, cheio da força do Espírito, voltou à Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos (Lc 4, 14-15).
Quando lês: Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos, não penses que somente aqueles eram felizes, e não te julgues privado do seu ensinamento. Se as Escrituras são verdadeiras, o Senhor não falou somente outrora nas assembléias dos judeus, mas fala também hoje em nossa assembléia; e não somente nesta, mas ensina também em outras reuniões e em todo o mundo, procurando os instrumentos pelos quais ensine. Rogai, pois, para que me encontre preparado e capaz de cantar!
Dirigiu-se para Nazaré onde se havia criado. Entrou na Sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois o Senhor me ungiu” (Lc 4, 16-18). Não foi por acaso que, abrindo o livro, encontrou o capítulo que falava dele profeticamente; isto fora predisposto pela providência de Deus. Como, de fato, está escrito: Nenhum pássaro cai no laço sem a vontade do Pai (cf. Mt 10, 29), e: até os cabelos da cabeça dos apóstolos estão contados (Lc 12, 7), assim aconteceu que lhe fosse entregue o livro do profeta Isaías, e não um outro trecho, mas aquele que falava do mistério de Cristo: O Espírito do Senhor está sobre mim, pois o Senhor me ungiu (Is 61, 1).
Depois de ter lido esse trecho, Jesus fechando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se. E todos os que estavam na Sinagoga tinham os olhos fixos nele (Lc 4, 20). E agora também, nesta reunião, se quiseres, os teus olhos poderão descobrir o Salvador. Pois, quando houveres empregado todas as forças do coração em contemplar a sabedoria e a verdade do Filho Unigênito de Deus, teus olhos verão Jesus. Feliz aquela assembléia de que fala a Escritura, na qual os olhos de todos estavam fixos nele! Como eu desejaria que também de nossa reunião se pudesse dizer mesma coisa, isto é, que os olhos de todos – catecúmenos e fiéis, mulheres, homens e crianças – não os olhos do corpo, mas os da alma viram Jesus!
Pois, quando olhares para ele, os vossos rostos se tornarão mais luminosos pela sua luz e seu olhar, e podereis dizer: Fazei brilhar, Senhor, sobre nós o esplendor de vossa face! (Sl 4, 7). Ao Senhor sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos. Das Homilias sobre o Evangelho de São Lucas, de Orígenes, presbítero

Jesus, então, cheio da força do Espírito, voltou à Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos (Lc 4, 14-15).
Quando lês: Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos, não penses que somente aqueles eram felizes, e não te julgues privado do seu ensinamento. Se as Escrituras são verdadeiras, o Senhor não falou somente outrora nas assembléias dos judeus, mas fala também hoje em nossa assembléia; e não somente nesta, mas ensina também em outras reuniões e em todo o mundo, procurando os instrumentos pelos quais ensine. Rogai, pois, para que me encontre preparado e capaz de cantar!
Dirigiu-se para Nazaré onde se havia criado. Entrou na Sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois o Senhor me ungiu” (Lc 4, 16-18). Não foi por acaso que, abrindo o livro, encontrou o capítulo que falava dele profeticamente; isto fora predisposto pela providência de Deus. Como, de fato, está escrito: Nenhum pássaro cai no laço sem a vontade do Pai (cf. Mt 10, 29), e: até os cabelos da cabeça dos apóstolos estão contados (Lc 12, 7), assim aconteceu que lhe fosse entregue o livro do profeta Isaías, e não um outro trecho, mas aquele que falava do mistério de Cristo: O Espírito do Senhor está sobre mim, pois o Senhor me ungiu (Is 61, 1).
Depois de ter lido esse trecho, Jesus fechando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se. E todos os que estavam na Sinagoga tinham os olhos fixos nele (Lc 4, 20). E agora também, nesta reunião, se quiseres, os teus olhos poderão descobrir o Salvador. Pois, quando houveres empregado todas as forças do coração em contemplar a sabedoria e a verdade do Filho Unigênito de Deus, teus olhos verão Jesus. Feliz aquela assembléia de que fala a Escritura, na qual os olhos de todos estavam fixos nele! Como eu desejaria que também de nossa reunião se pudesse dizer mesma coisa, isto é, que os olhos de todos – catecúmenos e fiéis, mulheres, homens e crianças – não os olhos do corpo, mas os da alma viram Jesus!
Pois, quando olhares para ele, os vossos rostos se tornarão mais luminosos pela sua luz e seu olhar, e podereis dizer: Fazei brilhar, Senhor, sobre nós o esplendor de vossa face! (Sl 4, 7). Ao Senhor sejam dadas honra e glória pelos séculos dos séculos.