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sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Concílio de Nicéia

Para os que ficaram irritados com as citações de Rodrigo Constantino que envolviam a Wikipedia, com a qual o rapaz imaginava derrotar o obscurantismo medieval de Olavo, recomendo a Conservapedia, que não apenas tem bons artigos (apesar de ser recente) como mostra o viés equerdista da Enciclopédia Livre. Uma boa síntese do Concílio de Nicéia:

An Ecumenical Council which was convened in 325 AD. It addressed the differing sects of Christianity, especially Arianism. As a result of the council, the Nicene Creed, which codified the theological understanding of the Holy Trinity, was issued. Until the Council of Nicaea, there was dispute within the church over the divinity of Jesus Christ. The Council ultimately decided that Jesus was the Son of God, by one vote.

The Council was presided over by Constantine, who is said to have coined the term homousis, the current language in the Nicene Creed describing Jesus as "of the same substance" as the father. Constantine's influence, though, is largely the stuff of panegyric writers, especially Eusebius of Caesarea, and his real influence is up for historical debate.[1]

The Council of Nicaea also canonized the current Bible and removed all other books of the Bible it deemed heretical, including the Gospel of Thomas and other Gnostic Gospels.

Diálogo sobre a Encarnação

São Cirilo de Alexandria (+444)


Rejeitemos todos os disparates, fábulas inconsistentes, falsas opiniões, ilusórias frases pomposas. Guardemos distância de tudo que é nocivo, mesmo que os adversários nos ensurdeçam com seus discursos astutos ou agressivos. Porque o mistério divino ‘não consiste em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito".

O Unigênito, que conforme as Escrituras era Deus e Senhor de todas as coisas, revelou-se a nós. Foi visto sobre a terra e iluminou os que jaziam nas trevas, fazendo-se homem. Não só pelas aparências: não se pense assim, é loucura pensá-lo e dizê-lo! Nem tampouco porque se tivesse tornado carne mediante uma mudança ou transformação: o Verbo é imutável, ele permanece eternamente o mesmo! Nem porque sua existência fosse contemporânea à da carne: ele é o Autor dos séculos! Nem porque, como pura palavra (sem subsistência) se tivesse tornado homem: é ele o pré-existente, que chama as coisas a existirem e nascerem! É ele a Vida, procedente da Vida, que é Deus Pai, o qual, como sabemos, o é na realidade, existe em própria hipóstase. Nem simplesmente se revestiu de uma carne privada de alma racional: foi verdadeiramente gerado por uma mulher, mostrou-se homem, assumindo a forma de servo, ele, o Deus Verbo, co-eterno e co-existente com o Pai; e assim como é perfeito em sua divindade, assim o é na sua humanidade, constituindo um só Cristo, Senhor e Filho, não apenas por justaposição da divindade e da carne, mas pela conexão paradoxal de dois elementos completos, a humanidade e a divindade, num único e mesmo ser.

- Quem, pois, foi gerado pela santa Virgem? O homem ou o Verbo procedente de Deus?

- Eis aí o erro, o pecado, contra todas as conveniências e contra a verdade! Não me vás dividir ou separar o Emanuel em um homem e um Deus Verbo, não mo faças um ser de dupla personalidade. Porque senão estaremos incorrendo numa afirmação condenada pela Sagrada Escritura, não estaremos pensando corretamente. Eis, na verdade, o que diz um dos discípulos de Cristo: "Quanto a vós, caríssimos, lembrai-vos do que foi predito pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, quando vos falavam: nos últimos tempos virão impostores, que viverão segundo suas ímpias paixões, homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito”

- Então não se deve introduzir divisão alguma?

- Não. E, sobretudo não se devem afirmar dois seres após a união, pensando cada um em separado. É preciso reconhecer que a mente considera certa diferença entre as naturezas: a divindade e a humanidade não são, seguramente, a mesma coisa; mas ao mesmo tempo que tais conceitos, há de se admitir a fusão das duas numa unidade.

Assim, ele nasceu de Deus Pai enquanto Deus, da Virgem enquanto homem. Esplendor derivado do Pai, acima de toda palavra e de todo pensamento, o Verbo é dito também gerado por uma mulher, pois, descendo à humanidade, tornou-se o que não era; não para ficar nesse aniquilamento, mas para que o creiamos Deus, mesmo quando se manifestou na terra sob uma forma como a nossa; não simplesmente habitando no homem, mas tornando-se, ele mesmo, homem por natureza, e conservando sua própria glória. Assim, esses dois elementos tão distantes de qualquer consubstancialidade, separados por incomensurável diferença, a humanidade e a divindade, Paulo os vê unidos num só, em razão da Economia, indicando que dos dois se constituiu um só Cristo, Filho de Deus: "Paulo - disse ele - servo do Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, segregado para o Evangelho de Deus, outrora prometido pelos profetas nas santas Escrituras a respeito de seu Filho, nascido, segundo a carne, da semente de Davi, estabelecido em seu poder de Filho de Deus, segundo o Espírito de santidade"

Veja-se como ele se diz "segregado para o Evangelho de Deus", embora escreva também: "Não pregamos a nós, mas a Jesus, Cristo e Senhor" , e ainda: "Não quis saber nada mais entre vós senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado".

Ora, ao mesmo tempo que designando-o como Filho de Deus, Paulo diz também que Cristo nasceu da semente de Davi e foi estabelecido Filho de Deus. Como - diz-me - é Deus o que nasceu da semente de Davi? O Filho anterior aos séculos, eterno enquanto nascido de Deus - pôde ser estabelecido filho de Deus, como se de pouco tivesse vindo à existência? Na verdade, ele mesmo disse de si: "O Senhor me falou: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei" , e no entanto a palavra "hoje" nos indica o momento presente, não o passado.

- Isso não deixou de me embaraçar muito, e diria que outros também tiveram dificuldades para compreendê-lo.

- Para os que separam e dividem (o Cristo), há de que se embaraçarem, com efeito; mas para os que afirmam a unidade no Emanuel, é fácil o conhecimento autêntico dos sagrados dogmas. O Filho co eterno a aquele que o gerou, e anterior aos séculos, quando desceu à natureza humana - sem abandonar sua qualidade de Deus, mas acrescentando-lhe o elemento humano - pôde na verdade ser concebido como oriundo da semente de Davi e ter um nascimento recente. Pois o que se lhe acrescentou não lhe era estranho, e sim próprio; assim, foi computado como um consigo, exatamente como no caso do composto humano, feito de elementos naturalmente desiguais (refiro-me à alma e ao corpo) e que no entanto fazem resultar um único homem. Assim como a carne empresta seu nome ao vivente inteiro, ou a alma também pode designá-lo, eis o que acontece em Cristo. Pois não há senão um Filho e um Senhor Jesus Cristo, antes de assumir a carne e depois que se manifestou como homem. Não estaremos assim renegando o Mestre que nos resgatou, mesmo se ocorre vir designado por suas fraquezas humanas e pelos limites impostos por seu aniquilamento.

- Não estou seguindo bastante bem; gostaria de uma explicação mais clara.

- Nosso Senhor Jesus Cristo disse, dirigindo-se aos judeus: "Se fôsseis os filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão, em vez de procurar matar-me - a mim que vos disse a verdade. Isso Abraão não fez".

Paulo, por sua vez, escreve: "Foi ele que, nos dias de sua vida mortal, ofereceu preces e súplicas, acompanhadas de um grande brado e de lágrimas, àquele que o poderia salvar da morte, e foi ouvido por sua reverência. Embora Filho, aprendeu pelo sofrimento o que significa obedecer".

Diremos, então, que Cristo é puro homem, em nada superior ao que nós somos?

- Não, não se diga assim!

- Ele, a sabedoria e o poder de Deus, admitiremos que tenha descido a tal grau de fraqueza a ponto de temer a morte e a ponto de suplicar ao Pai a salvação? Tiraremos ao Emanuel o privilégio de ser a Vida, por natureza? Ou estaremos falando corretamente ao reportar à humanidade e à limitação da natureza semelhante à nossa as expressões menos honrosas, percebendo ao mesmo tempo a glória sobrenatural que lhe vem dos traços de sua divindade, compreendendo que o mesmo é, a uma vez, Deus e homem, ou antes, Deus feito homem?

- Como assim, diz-me?

- Venha testemunhar entre nós o ilustre Paulo, de quem são estas palavras: "É da sabedoria que falamos aos perfeitos, não de uma sabedoria deste mundo nem dos príncipes deste mundo, condenados a perecer. Falamos da sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que nenhum dos príncipes deste mundo conheceu. Porque se a tivessem conhecido não teriam crucificado ao Senhor da glória" . E ainda: "Esplendor da (divina) glória e figura da (divina) substancia, ele mantém o universo com o poder de sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade divina ro mais alto dos céus, tão sublimado acima dos anjos, quanto excede o deles o nome que herdou" . De fato, ser e chamar-se "Senhor da glória" não está muito acima e além de toda criatura, sujeita à mudança? E omito o que se refere à espécie humana, que é bem menos importante: são aqui mencionados os anjos, as potestades, os tronos, as dominações, são mencionados até os sublimes serafins, reconhecendo-se que estão muito aquém desse sublime Esplendor, o que é claro ao menos para quem não traz o espírito corrompido. Tais privilégios, verdadeiramente extraordinários, são apanágio da natureza que reina sobre o universo.

Ora, como o Crucificado poderia tornar-se Senhor da glória? O Esplendor do Pai, a imagem de sua substância, o que sustenta o universo por sua palavra poderosa, ei-lo dito feito superior aos anjos: penso que só porque assumira antes uma condição inferior à deles, aparecendo como homem. Está escrito, com efeito: "aquele que foi rebaixado um instante sob os anjos, Jesus, nós o vemos coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu ".

Apartaremos então o Verbo, nascido de Deus Pai, da transcendência que lhe cabe por sua essência, da exata semelhança com esse Pai, quando o vemos inferior em glória aos anjos, na situação humilde que lhe trouxe a Economia?

- Não, por certo. Não penso que se deva separar completamente o Verbo de Deus das fraquezas humanas após sua união com a carne, nem despojar da divina glória o elemento humano, se se julga e se confessa estar este no Cristo. Alguns perguntarão, contudo, bem o sabes: mas quem é então Jesus Cristo? O homem nascido da Virgem ou o Verbo nascido de Deus?

- Francamente, é tolice estender-nos inutilmente na resposta a um vão palavreado. Contento-me em dizer que é perigoso e culpável separar em dois, pondo cada um à parte, o homem e o Verbo: a Economia não o admite, a Escritura inspirada clama que Cristo é um. Quanto a mim, digo que nem o Verbo divino sem a humanidade, nem o templo nascido da mulher, enquanto não está unido ao Verbo, devem ser chamados Jesus Cristo. Por Cristo se entende o Verbo procedente de Deus, unido à humanidade. Superior à humanidade enquanto Deus, por natureza, e Filho. Inferiorizado à glória digna de Deus, enquanto homem. Por isso, ora disse ele: "quem me viu, viu o Pai" , "eu e o Pai somos um" ; ora disse, ao contrário: "meu Pai é maior do que eu" . Não é menor do que o Pai enquanto lhe é idêntico em substância, é seu igual sob todos os aspectos, mas se diz menor em razão do que tem de humano. As Sagradas Escrituras o pregam também assim, ora como inteiramente homem, sem mencionar sua divindade, ora como Deus, sem nada dizer de sua humanidade. Não erram, por causa da conjunção dos dois elementos na unidade.
Obras:

1.

Catequeses Mistagógicas

Fonte:
GOMES, C. Folch Antologia dos Santos Padres.
São Paulo- Ed. Paulinas 1979

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O que é o aborto?

Carta enviada ao Globo, de D. Estêvão Bettencourt:

O ABORTO É HOMICÍDIO

Em resposta ao artigo publicado sobre a Igreja e o aborto, desejo observar que toda a argumentação em favor do aborto cai por terra desde que se considere que o aborto é um homícidio..., e homicídio tal como não ocorria nem mesmo nos campos de concentração nazistas (onde havia câmaras de gás e fuzilamentos). No aborto a criança é dilacerada, despedaçada...; tem uma tesoura fincada no seu pescoço; o seu cérebro é sugado, de modo a causar o colapso do bebê, que vem finalmente arrancado do seio materno. E isto tudo é cometido geralmente a pedido da mãe ou com o consentimento dela. Tal prática fere não somente a criança, mas também o senso humanitário de qualquer criatura mentalmente sadia; fere principalmente o senso maternal da mulher. Muito mais nobre, da parte da mãe, é não matar o filho, deixá-lo nascer e entregá-lo a um casal ou a uma instituição (se não o quer ou não o pode educar). Aliás, quem é contrário à pena de morte para um criminoso, com mais razão deve ser contrário à pena de morte para uma criança inocente. Quanto à posição da Igreja frente ao aborto através dos séculos, o fato é que a Igreja sempre considerou ilícito o aborto, mesmo quando se pensava que a animação do feto se dava no 40º ou 80º dia; seria sempre o morticínio de um ser humano em formação.

Comentário ao Evangelho do Domingo de Ramos (Paixão)

DO TRATADO DE SANTO AGOSTINHO, BISPO, SOBRE O EVANGELHO DE SÃO JOÃO


Se o sangue de Cristo não se derramasse, o mundo não seria remido

Ainda não chegara a sua hora (Jo 7,30), não a hora em que seria obrigado a morrer, mas consentiria em morrer. Bem sabia quando deveria fazê-lo, pois conhecia todas as profecias a seu respeito, e esperava que se cumprissem todas as coisas preditas para antes de sua paixão, a fim de que, quando fossem realizadas, ela então tivesse início, segundo a ordem (por ele) estabelecida, não por fatalidade.
Escutai e constatai vós próprios. Entre as coisas profetizadas a seu respeito, está escrito: Deram-me fel como alimento e ofereceram-me vinagre em minha sede (Sl 68,22). Sabemos pelo Evangelho como isto se realizou. Primeiro, deram-lhe fel: tomou, provou, cuspiu; depois, pendente na cruz, para que se realizasse o que fora predito, exclamou: Tenho sede; tomaram então uma esponja embebida em vinagre, ataram-na a uma cana, e apresentaram-na ao que pendia na cruz. Ele tomou e disse: Tudo está consumado (cf. Jo 19,28-30). Que significa: Tudo está consumado? Todas as coisas que foram profetizadas antes da minha paixão se realizaram; então, o que ainda faço na terra? Finalmente, depois de ter dito, tudo está consumado, ele, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30).
Porventura os ladrões, crucificados ao seu lado, morreram quando quiseram? Estavam presos pelos laços da carne, porque não dominavam sua fraqueza. O Senhor, pelo contrário, quando quis, fez-se carne nas entranhas da Virgem; quando quis, veio ao encontro dos homens; enquanto quis, viveu no meio deles; quando quis, separou-se da carne. Tudo isto por poder e não por necessidade. Esperava, pois, esta hora, não fatal, mas oportuna e querida, para que se realizasse primeiro tudo que devia realizar-se antes de sua paixão. Pois, como podia estar sujeito ao destino, aquele que dissera: Tenho poder de dar a minha vida, e tenho poder de retomá-la; ninguém me pode retirá-la, mas eu a dou por mim mesmo, como tenho o poder de reassumi-la (cf. Jo 10,17-18)? Mostrou tal poder quando os judeus o procuravam para prendê-lo: A quem procurais?, perguntou. E eles: Jesus. Respondeu ele: Sou eu. Ouvida esta voz, recuaram e cairam por terra (Jo 18,4-6).
Alguém dirá: se nele havia tal poder, por que, quando os judeus o insultavam pendente na cruz e diziam: Se és o Filho de Deus, desce da cruz (Mt 27,40), não desceu para mostrar o que podia? Adiava a manifestação do seu poder quem ensinava a paciência. Se descesse movido pelas palavras dos inimigos, julgariam que fora vencido pela dor dos insultos. De fato, não desceu, mas permaneceu crucificado, para sair da cruz quando quisesse.
Que coisa grande descer da cruz, para quem pôde ressurgir do sepulcro! Compreendamos, pois, recebendo este ensinamento, o poder de nosso Senhor Jesus Cristo então oculto, mas que se manifestará no juizo futuro, do qual foi dito: Deus virá manifestamente, o nosso Deus, e não se calará (cf. Sl 49,3 Vulg.). Que quer dizer não se calará? Que primeiramente se calou. Quando se calou? Quando foi julgado, e realizou então o que fora predito pelo profeta: Como ovelha conduzida ao matadouro, ou cordeiro mudo ante o tosquiador, ele também não abriu a boca (Is 53,7). Se não quisesse sofrer, não sofreria; se não tivesse sofrido, seu sangue não teria sido derramado; se seu sangue não tivesse sido derramado, o mundo não seria redimido. Demos graças, pois, ao poder de sua divindade e à misericórdia de sua fraqueza.

Leitura para a Solenidade da Ascenção do Senhor

DO COMENTÁRIO AO EVANGELHO DE SÃO JOÃO, DE SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA, BISPO


Nosso Senhor Jesus Cristo inaugurou para nós um caminho novo e vivo

«Se junto de Deus, meu Pai, não houvesse muitas moradas», dizia o Senhor, «eu teria ido muito antes preparar o lugar para os santos. Mas como sei que há muitas esperando a chegada dos que amam a Deus, não é por este motivo» - disse - «que vou ausentar-me, mas porque vosso regresso pelo caminho outrora preparado estava inacessível e precisava ser aplanado.»
De fato, o céu para os homens era absolutamente inatingível e a carne nunca penetrara antes no puro e santíssimo lugar dos anjos. Cristo foi o primeiro que inaugurou para nós aquela via de acesso. E ensinou aos homens a maneira de chegar ao céu, oferecendo-se a Deus Pai como primícia dos mortos e dos que jazem na terra e manifestando-se como primeiro homem aos que vivem no céu.
Por isso os anjos, ignorando o grande e augusto mistério para quela chegada corporal, admiravam atônitos o homem que subia, e perturbados com aquele novo e estranho espetáculo, estavam para perguntar: Quem é esse que vem de Edom? (Is 63,1), isto é, da terra? Mas o Espírito não permitiu que aquela celeste multidão ficasse a ignorar a admirável sabedoria de Deus Pai, mas ordenou que as portas celestes se abrissem ao Rei e Senhor do universo, exclamando: Levantai, ó príncipes, as vossas portas! Alçai-vos, portas eternas, e entrará o Rei da glória (Sl 23,7, Vulgata).
Inaugurou, pois, para nós, o Senhor Jesus um caminho novo e vivo, como diz São Paulo: Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas e sim no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus, em nosso favor (Hb 9,24). Pois Cristo não subiu para apresentar-se diante do Pai, já que ele estava, está e estará sempre no Pai e diante dos olhos daquele que o gerou. Ele é sempre o objeto de sua complacência. Mas o Verbo subiu, agora, como homem, deixando-se ver de uma maneira nova e insólita, já que antes não possuía condição humana. E isto por nós e para nós, a fim de ouvir, na plenitude da realidade, feito semelhante aos homens, em seu poder de Filho e como homem: Senta-te à minha direita (Sl 109,1), transmitindo a todo o gênero humano, adotado nele, a glória da filiação.
De fato é um de entre nós, enquanto apareceu como homem na presença de Deus Pai, embora esteja acima de todas as criaturas e seja consubstancial àquele que o gerou, sendo o seu esplendor, Deus de Deus e luz da verdadeira luz. Apareceu assim, por nós, diante de Deus Pai, para reapresentar-nos a nós que tínhamos sido afastados de diante de sua face, por causa do antigo pecado. Sentou-se como Filho para que também nós nos sentássemos como filhos e por ele fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso é que São Paulo, que afirma ter em si a Cristo que fala por seu intermédio, ensina: o que aconteceu a Cristo por título especial se comunica à natureza humana. E escreve: Com ele nos ressuscitou e nos fez sentar no céu, em Cristo Jesus (Ef 2,6).
Compete a Cristo propriamente e somente a ele, segundo sua natureza de Filho, a dignidade e a glória de se sentar ao lado de Deus. Mas, porque o que se senta é semelhante a nós, dado que apareceu como homem, e ao mesmo tempo é reconhecido como Deus de Deus, transmite-nos a nós de certo modo a graça dessa dignidade.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Medite e fale as palavras de Deus



En todo momento tu corazón y tu boca deben meditar la sabiduría, y tu lengua proclamar la justicia, siempre debes llevar en el corazón la ley de tu Dios. Por esto te dice la Escritura: Hablarás de ellas estando en casa y yendo de camino, acostado y levantado. Hablemos, pues, del Señor Jesús, porque él es la sabiduría, él es la palabra, y Palabra de Dios.

Porque también está escrito: Abre tu boca a la palabra de Dios. Por él anhela quien repite sus palabras y las medita en su interior. Hablemos siempre de él. Si hablamos de sabiduría, él es la sabiduría; si de virtud, él es la virtud; si de justicia, él es la justicia; si de paz, él es la paz; si de la verdad, de la vida, de la redención, él es todo esto.

Está escrito: Abre tu boca a la palabra de Dios. Tú ábrela, que él habla. En este sentido dijo el salmista: Voy a escuchar lo que dice el Señor, y el mismo Hijo de Dios dice: Abre tu boca y yo la saciaré. Pero no todos pueden percibir la sabiduría en toda su perfección, como Salomón o Daniel; a todos sin embargo se les infunde, según su capacidad, el espíritu de sabiduría, con tal de que tengan fe. Si crees, posees el espíritu de sabiduría.

Por esto, medita y habla siempre las cosas de Dios, estando en casa. Por la palabra casa podemos entender la iglesia o, también, nuestro interior, de modo que hablemos en nuestro interior con nosotros mismos. Habla con prudencia, para evitar el pecado, no sea que caigas por tu mucho hablar. Habla en tu interior contigo mismo como quien juzga. Habla cuando vayas de camino, para que nunca dejes de hacerlo. Hablas por el camino si hablas en Cristo, porque Cristo es el camino. Por el camino, háblate a ti mismo, habla a Cristo. Atiende cómo tienes que hablarle: Quiero -dice- que los hombres oren en todo lugar levantando al cielo las manos purificadas, limpias de ira y de altercados. Habla, oh hombre, cuando te acuestes, no sea que te sorprenda el sueño de la muerte. Atiende cómo debes hablar al acostarte: No daré sueño a mis ojos, ni reposo a mis párpados, hasta que encuentre un lugar para el Señor, una morada para el Fuerte de Jacob. Cuando te levantes, habla también de él, y cumplirás así lo que se te manda. Fíjate cómo te despierta Cristo. Tu alma dice: Oigo a mi amado que me llama, y Cristo responde: Ábreme, amada mía. Ahora ve cómo despiertas tú a Cristo. El alma dice: ¡Muchachas de Jerusalén, os conjuro a que no vayáis a molestar, a que no despertéis al amor! El amor es Cristo.

(36, 65-66; Liturgia de las Horas)

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Martírio de São Justino e seus companheiros



Martirio de los santos mártires Justino, Caritón, Caridad, Evelpisto, Hierax, Peón y Liberiano.
En tiempo de los inicuos defensores de la idolatría, publicábanse, por ciudades y lugares, impíos edictos contra los piadosos cristianos, con el fin de obligarles a sacrificar a los ídolos vanos. Prendidos, pues, los santos arriba citados, fueron presentados al prefecto de Roma, por nombre Rústico.
Venidos ante el tribunal, el prefecto Rústico dijo a Justino: —En primer lugar, cree en los dioses y obedece a los emperadores.
Justino respondió:
- Lo irreprochable, y que no admite condenación, es obedecer a los mandatos de nuestro Salvador Jesucristo.
El prefecto Rústico dijo:
- ¿Qué doctrina profesas?
Justino respondió:
- He procurado tener noticia de todo linaje de doctrinas; pero sólo me he adherido a las doctrinas de los cristianos, que son las verdaderas, por más que no sean gratas a quienes siguen falsas opiniones.
El prefecto Rústico dijo:
-¿Con que semejantes doctrinas te son gratas, miserable?
Justino respondió:
- Sí, puesto que las sigo conforme al dogma recto.
El prefecto Rústico dijo:
- ¿Qué dogma es ése?
Justino respondió:
- El dogma que nos enseña a dar culto al Dios de los cristianos, al que tenemos por Dios único, el que desde el principio es hacedor y artífice de toda la creación, visible e invisible; y al Señor Jesucristo, por hijo de Dios, el que de antemano predicaron los profetas que había de venir al género humano, como pregonero de salvación y maestro de bellas enseñanzas.Y yo, hombrecillo que soy, pienso que digo bien poca cosa para lo que merece la divinidad infinita, confesando que para hablar de ella fuera menester virtud profética, pues proféticamente fue predicho acerca de éste de quien acabo de decirte que es hijo de Dios. Porque has de saber que los profetas, divin-mente inspirados, hablaron anticipadamente de la venida de Él entre los hombres.
El prefecto Rústico dijo:
- ¿Dónde os reunís?
Justino respondió:
- Donde cada uno prefiere y puede, pues sin duda te imaginas que todos nosotros nos juntamos en un mismo lugar. Pero no es así, pues el Dios de los cristianos no está circunscrito a lugar alguno, sino que, siendo invisible, llena el cielo y la tierra Y en todas partes es adorado y glorificado por sus fieles.El prefecto Rústico dijo:
- Dime donde os reunís, quiero decir, en qué lugar juntas a tus discípulos.
Justino respondió:
- Yo vivo junto a cierto Martín, en el baño de Timiolino, Y ésa ha sido mi residencia todo el tiempo que he estado esta segunda vez en Roma. No conozco otro lugar de reuniones sino ése. Allí, si alguien quería venir a verme, yo le comunicaba las palabras de la verdad.
El prefecto Rústico dijo:
- Luego, en definitiva, ¿eres cristiano?
Justino respondió:
- Sí, soy cristiano.
El prefecto Rústico dijo a Caritón:
- Di tú ahora, Caritón, ¿también tú eres cristiano?
Caritón respondió:
- Soy cristiano por impulso de Dios.
El prefecto Rústico dijo a Caridad:
- ¿Tú qué dices, Caridad?
Caridad respondió:
- Soy cristiana por don de Dios.
El prefecto Rústico dijo a Evelpisto:
- ¿Y tú quién eres, Evelpisto?
Evelpisto, esclavo del César, respondió:
- También yo soy cristiano, libertado por Cristo, y, por la gracia de Cristo, participo de la misma esperanza que éstos.El prefecto Rústico dijo a Hierax:
- ¿También tú eres cristiano?
Hierax respondió:
- Sí, también yo soy cristiano, pues doy culto y adoro al mismo Dios que éstos.
El prefecto Rústico dijo:
-¿Ha sido Justino quien os ha hecho cristianos?
Hierax respondió:
- Yo soy de antiguo cristiano, y cristiano seguiré siendo. Mas Peón, poniéndose en pie, dijo:
- También yo soy cristiano.
El prefecto Rústico dijo:
- ¿Quién te ha enseñado?
Peón respondió:
- Esta hermosa confesión la recibimos de nuestros padres.
Evelpisto dijo:
- De Justino, yo tenía gusto en oír los discursos: pero el ser cristiano, también a mí me viene de mis padres.
El prefecto Rústico dijo:
- ¿Dónde están tus padres?
Evelpisto respondió:
- En Capadocia.
El prefecto Rústico le dijo a Hierax:
- Y tus padres, ¿dónde están?
E Hierax respondió diciendo:
- Nuestro verdadero padre es Cristo, y nuestra madre la fe en Él; en cuanto a mis padres terrenos, han muerto, y yo vine aquí sacado a la fuerza de Iconio de Frigia.
El prefecto Rústico dijo a Liberiano:
- ¿Y tú qué dices? ¿También tú eres cristiano? ¿Tampoco tú tienes religión?
Liberiano respondió:
- También yo soy cristiano; en cuanto a mi religión, adoro al solo Dios verdadero.
El prefecto dijo a Justino:
- Escucha tú, que pasas por hombre culto y crees conocer las verdaderas doctrinas. Si después de azotado te mando cortar la cabeza, ¿estás cierto que has de subir al cielo?
Justino respondió:
- Si sufro eso que tú dices, espero alcanzar los dones de Dios; y sé, además, que a todos los que hayan vivido rectamente, les espera la dádiva divina hasta la conflagración de todo el mundo.
El prefecto Rústico dijo:
- Así, pues, en resumidas cuentas, te imaginas que has de subir a los cielos a recibir allí no sé qué buenas recompensas.
Justino respondió:
- No me lo imagino, sino que lo sé a ciencia cierta, y de ello tengo plena certeza.
El prefecto Rústico dijo:
- Vengamos ya al asunto propuesto, a la cuestión necesaria y urgente. Poneos, pues, juntos, y unánimemente sacrificad a los dioses.
Justino dijo:
- Nadie que esté en su cabal juicio se pasa de la piedad a la impiedad.
El prefecto Rústico dijo:
- Si no obedecéis, seréis inexorablemente castigados.
Justino dijo:
- Nuestro más ardiente deseo es sufrir por amor de nuestro Señor Jesucristo para salvarnos, pues este sufrimiento se nos convertirá en motivo de salvación y confianza ante el tremendo y universal tribunal de nuestro Señor y Salvador.
En el mismo sentido hablaron los demás mártires:
- Haz lo que tú quieras; porque nosotros somos cristianos y no sacrificamos a los ídolos.
El prefecto Rústico pronunció la sentencia, diciendo:«Los que no han querido sacrificar a los dioses ni obedecer al mandato del emperador, sean, después de azotados, conducidos al suplicio, sufriendo la pena capital, conforme a las leyes».
Los santos mártires, glorificando a Dios, salieron al lugar acostumbrado, y, cortándoles allí las cabezas, consumaron su martirio en la confesión de nuestro Salvador. Mas algunos de los fieles tomaron a escondidas los cuerpos de ellos y los depositaron en lugar conveniente, cooperando con ellos la gracia de nuestro Señor Jesucristo, a quien sea gloria por los siglos de los siglos. Amén.

(BAC 75, 311-316)

Com Sua presença, Cristo santifica o matrimônio

Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo

No momento oportuno, Cristo começa a realizar milagres, embora pareça fortuita a ocasião. Assim é que, numa celebração de casamento, realizada de modo digno e honroso, estava presente a mãe do Salvador, e ele mesmo fora convidado com os discípulos; não tanto para participar da mesa,
Veio a faltar vinho para os convidados. Sua mãe pede-lhe que faça uso de sua habitual bondade e benevolência: Eles não têm vinho (Jo 2, 3). Exorta-o a realizar o milagre, já que tem o poder de fazer o que quer. Que temos nós a ver com isso, mulher? Minha hora ainda não chegou (Jo 2, 4). O Salvador se expressou perfeitamente assim, uma vez que não se apressava em fazer milagres nem se oferecia para fazê-los. Mas os fazia para atender a um pedido, e mais para ser útil do que para despertar a admiração dos presentes. Além disso, as coisas desejadas tornam-se mais agradáveis quando não são imediatamente concedidas; cumulam uma feliz esperança se demoram um pouco. Enfim, Cristo quer mostrar-nos o grande respeito devido aos pais, aceitando realizar, em atenção a sua mãe, o que antes não quisera fazer.


Commentarium in Ioannis Evangelium, liber 2(Patrologia Grega 73, 223-226)

Aprende a carregar Cristo

Do comentário sobre o Evangelho de São Lucas, por Santo Ambrósio, Bispo

Não foi por prazer que o Senhor do mundo, em sua condição humana, apareceu publicamente montando em uma jumenta. O que ele desejava, por um misterioso segredo (ou mistério latente), era penetrar no âmago dos corações, selar o íntimo de nossa alma e, como místico cavaleiro, aí tomar assento, corporalmente. Assim, por sua divindade, poderia dirigir os passos da alma, refreando os impulsos da carne e, habituando os pagãos àquela amorosa direção, disciplinar-lhes os sentimentos. Felizes os que, sobre o dorso da alma, acolheram tal cavaleiro! Realmente felizes os que, tendo os lábios contidos pelas rédeas do Verbo celeste, não se dissiparam na loquacidade.
E que rédea será essa, irmãos? Quem me ensinará como se pode reprimir ou soltar os lábios dos homens? Mostrou-me tal rédea aquele que disse: Que a palavra seja colocada em minha boca, de maneira que eu possa falar abertamente (cf. Ef 6, 19). A palavra é, pois, uma rédea, mas também um aguilhão. É difícil teimares contra o aguilhão! (At 26, 14). Foi o Senhor quem nos ensinou a abrir o coração, a suportar o aguilhão, a carregar o jugo. Que um outro nos ensine a suportar o freio da língua; pois mais rara é a virtude do silêncio que a da palavra. Sim, o que nos ensinou aquele que, como mudo, não abriu a boca contra a impostura e, pronto para as chicotadas, não recusou os golpes, a fim de tornar-se um suave assento para o Senhor?
Aprende, de um familiar de Deus, a carregar Cristo, pois ele, outrora, te carregou quando, como pastor, reconduzia a ovelha desgarrada; aprende a oferecer, de bom grado, o dorso de tua alma, aprende a ficar sob Cristo, para que possas ficar sobre o mundo. Não é qualquer um que transporta facilmente Cristo, mas quem é capaz de dizer: Meu coração grita e geme de dor, esmagado e humilhado demais (Sl 37 [38], 9).
Com efeito, se desejas não ser abalado, coloca teus passos pacificados sobre as vestes dos santos; na verdade, cuida para não caminhares com os pés enlameados; acautela-te para não te embrenhares pelos desvios, abandonando o caminho dos profetas. Pois, a fim de proporcionar um percurso mais seguro para as nações que haveriam de chegar, os que precederam Jesus cobriram, com as próprias vestes, o caminho até o templo de Deus. Para que avances sem tropeço, os discípulos do Senhor despojaram-se, pelo martírio, de suas vestes, para aplainar-te um caminho através da multidão hostil.


Commentarium in Lucam, liber 9, 9-11(Sources Chrétiennes 52, 143-144)

Mãe de Deus

À época do Concílio de Éfeso, a temível heresia do nestorianismo investia suas bordoadas contra a Igreja Católica (ou, para os protestantes, Igreja Primitiva) e contra a Cruz, usando dos expedientes mais sórdidos: difamação, propaganda, acusações, e uma técnica que é antepassada remota da tática leninista: a destruição de reputação sem a refutação lógica incluída. Essa heresia não foi um delírio grupal, mas um movimento violento, que pervertia o conteúdo da doutrina Cristã e seduzia à muitos.
Ora, o que é o nestorianismo? É a heresia que afirma que Maria não é a Mãe de Deus, mas apenas a Mãe de Cristo, ou seja, só da natureza humana de Cristo. Implícito está aí algo que se repete em todas as seitas, sejam gnósticas, cátaras, donatistas ou outras do mesmo esgoto: o ódio à Virgem Maria.
Não, não vou dizer que os protestantes vão para o Inferno por não venerá-la; mas lembro a esses mesmos protestantes que o Arcanjo Gabriel disse a ela: 'Salve, Maria!'. Na época do Império Romano, esta era uma saudação estritamente feita de um subordiado a alguém superior. Por isso nos filmes há tantos 'Ave, César!' e nunca algo como 'Ave, soldado!'. Ora, se o próprio Gabriel a reconhece como superior, quem sou eu para dizer que ela 'não tem tanta importância assim'...

Eis um belo texto de São Cirilo de Alexandria, Doutor do século IV, que se levantou contra o nestorianismo no Concílio de Éfeso, com comentários intercalados que não são meus:

Tu és verdadeiramente Mãe de Deus, ó Virgem Maria

Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. Realmente, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou? Esta verdade nos foi transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta expressão. Assim fomos também instruídos pelos Santos Padres. Em particular, Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, na terceira parte do livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, dá frequentemente à virgem Santíssima o título de Mãe de Deus.

Vejo-me obrigado a citar aqui suas palavras, que têm o seguinte teor: “a Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador estas duas coisas: que ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é o Verbo do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da virgem Maria, Mãe de Deus”.E continua mais adiante: “Houve muitos que já nasceram santos e livres de todo pecado. Por exemplo: Jeremias foi santificado desde o seio materno; também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus”. (Aqui, São Cirilo e Santo Atanásio não estão afirmando que Jeremias e João Batista foram imaculados desde a conceição, como a Virgem Maria. Nossa Senhor foi imaculada desde o primeiríssimo momento da sua concepção. Esses dois profetas, concebidos como pecadores, forma purificados num determinado momento do período de gravidez. João, por exemplo, no sexto mês da gestação materna... A imaculada conceição diz respeito única e exclusivamente à Toda Santa Virgem Maria Mãe de Deus). Estas palavras são de um homem inteiramente digno de lhe darmos crédito, sem receio, e a quem podemos seguir com toda segurança. Com efeito, ele jamais pronunciou uma só palavra que fosse contrária às Sagradas Escrituras (É muito belo o elogio que São Cirilo faz ao seu antecessor na sede episcopal de Alexandria. De fato, Santo Atanásio foi o grande defensor da divindade de Cristo, contra a heresia ariana. Por isso mesmo, chegou a ser exilado de sua diocese cinco vezes pelo Imperador. E pensar que ignorante e espertalhão autor do Código da Vinci, afirma que foi o imperador quem forçou a proclamar Cristo como Deus. Mentira! Os bispos é que sofreram para defender, contra alguns imperadores, a verdadeira fé na divindade de Cristo).
De fato, a Escritura, verdadeiramente inspirada por Deus, afirma que o Verbo de Deus se fez carne, quer dizer, uniu-se à carne dotada de alma racional. Portanto, o Verbo de Deus assumiu a descendência de Abraão e, formando para si um corpo vindo de uma mulher, tornou-se participante da carne e do sangue. Assim, já não é somente Deus mas homem também, semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa natureza. Por conseguinte, o Emanuel, Deus-conosco, possui duas realidades, isto é, a divindade e a humanidade. Todavia, é um só o Senhor Jesus Cristo, único e verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, igual àqueles que pela graça se tornam participantes da natureza divina; (Aqui, São Cirilo refere-se ao cristão que, batizado, recebe o Espírito de Cristo e, como filho no filho Jesus, torna-se participante da natureza divina); mas é verdadeiro Deus, que para nossa salvação, se tornou visível em forma humana, conforme Paulo testemunha com as seguintes palavras: Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva (Gl 4,4-5).