domingo, 23 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal

Após ter escrito essa mensagem, enquanto a examinava mais calmamente, não cheguei a confirmar a existência de um erro nela. Como ela já foi aprovada por alguém bem mais inteligente que eu, acho que posso postá-la aqui. Mas peço aos visitantes do blog: se eu tiver proferido alguma asneira, avisem-me!



Seguirei, conforme minhas pobres capacidades, o exemplo do filósofo Olavo de Carvalho, procurando expor aqui, bem brevemente, meus votos de um feliz Natal aos leitores do Mercabá.


Poderia começar o texto de forma negativa, criticando o consumismo e a sanha da compra de presentes que parecem se sobrepor e substituir o significado original da celebração. Mas não farei isso; ao contrário, convido o leitor a seguir uma linha de pensamento perfeitamente racional e positiva, exposta formidavelmente por Santo Anselmo em Cur Deus Homo.


Comecemos essa escalada ao entendimento da importância da Encarnação por uma operação simples: a classificação das ofensas. Existe, evidentemente, uma hierarquia nos ultrajes e nos insultos, de acordo com o ultrajado e o ofendido. Quanto mais elevado e mais insigne for ele, pior será a ofensa. Assim, o ultraje a um sábio é mais grave que o ultraje a um vagabundo; o ultraje a um consagrado é mais temível que o ultraje a um pulha. Além disso, a cada ofensa corresponde uma reparação própria, tanto mais penosa e dolorosa quanto mais perigosa for a ofensa, e o retorno à amizade com o ofendido torna-se igualmente mais penoso quanto mais temerário for o insulto. É mais difícil reatar uma amizade com alguém que você chamou de imbecil do que com alguém taxado de ignorante, por exemplo.


O que dizer, então, de uma ofensa a Deus? O que seria capaz de reintroduzir o homem na amizade com Seu Criador, se a própria criatura faz o que é abominável a Seus olhos?


Convenhamos que nesse grau de gravidade, nenhum ato humano, nenhuma façanha, nenhum grande gesto, nenhuma proeza seria capaz de pagar as dívidas com Deus. Nem mesmo na soma das capacidades humanas haveria poder suficiente para restituir a amizade ofendida. O único ato que poderia realizar esse resgate seria um ato de amor infinito, anulando uma injúria ilimitada. Mas é óbvio que mesmo o amor de toda a criação seria ainda finito. Como, então, uma alma humana poderia votar a Deus um amor infinito capaz de satisfazer a ofensa?


Tal homem, que amasse a Deus infinitamente e reparasse a abominável injúria cometida, teria de realizar um gesto muito maior do que qualquer ato humano, por dever ser também divino. Apenas o sacrifício de um perfeito homem que fosse inteiramente Deus reataria a amizade humana com seu Criador. Seu ato tinha a obrigação de agradar a Deus tanto quanto O desagradaram as iniqüidades humanas. Ora, essa alma humana a que me refiro não apenas agradou de forma equivalente a Deus, mas superou por imensa vantagem as ofensas. Suas obras, sua vida, seu sacrifício, não apenas nos reintroduziram na amizade de Deus, mas destruíram por completo a nossa covarde submissão ao banho de sangue de sacrifícios inúteis, multiplicados na forma de vinganças, de procura por bodes expiatórios e adoração a falsos deuses. Tal alma humana de uma pessoa divina não apenas satisfez as nossas dívidas, mas nos resgatou da opressão sinistra do pecado e da morte. Refiro-me, evidentemente, a Jesus Cristo.


Gostaria de terminar a mensagem com uma advertência: não se deixe fraquejar pela aparente supremacia dos poderes desse mundo. O sacrifício necessário à satisfação da injúria a Deus já foi feito. Consummatum est.

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